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A HISTÓRIA SUJA DO SANGUE SAGRADO

Pelo fato do sangue menstrual ter ocupado um lugar de destaque na "tealogia" matriarcal (thea= deusa, theo = deus), as civilizações e teologias patriarcais o abominavam e execraram pelo temor que o seu poder lhes provocava.

Na mitologia védica relata-se que o deus Vishnu copulou com a deusa da Terra quando mentruada e ela concebeu, assim, monstros destruidores.

Os zoroastrianos acreditavam que o olhar da mulher menstruada era venenoso e nocivo para os homens.

O Talmud proibia os homens de se aproximarem de uma mulher menstruada, que poderia lhes roubar a sabedoria, a energia, a vitalidade, o poder e mesmo a vida. Na Bíblia (Levítico 15: 19-30) declara-se que o toque da mulher menstruada contamina o homen e que sacrifícios de animais devem ser oferecidos como penitência e expiação pelo "pecado" sangrento da mulher.

Os brâmanes puniam severamente os homens que tinham relações sexuais com mulheres menstruadas, enquanto os patriarcas consideravam o sangue menstrual um veneno diabólico e proibiam as mulheres de olharem para o Sol, chegar perto dos altares ou falar com os homens durante seu período.

Os rabinos alegavam que Eva começou a menstruar após ter copulado com a serpente. Enquanto isso, na Creta matrifocal as mulheres e as serpentes eram sagradas (os homens, não) e os vasos ritualísticos em forma de vagina adornados com serpentes recebiam como oferenda para a Deusa o sangue menstrual de suas sacerdotisas.

O cristianismo herdou e ampliou esse horror patriarcal ao sangue feminino, proibindo as mulheres de comungar ou até mesmo entrar na igreja para não contaminá-la com a sua “sujeira”. Superstições e tabus foram multiplicados para impedir os antigos costumes camponeses e fertilizar os campos antes da semeadura com sangue menstrual, continuação das práticas das sacerdotisas de Deméter, que misturavam as sementes antes da semeadura. As mulheres cristãs menstruadas não podiam mais cuidar do gado (azedavam o leite), assar o pão (que não crescia), plantar (as sementes não brotavam), preparar alimentos (que fermentavam) ou tocar os homens (para não torná-los impotentes). Autoridades médicas do século XVI afirmavam que os demônios da loucura eram criados do fluxo menstrual, originando assim uma verdadeira hemofobia que desonrava a mulher e negava seu verdadeiro poder.

​​Com o advento das sociedades patriarcais, as práticas sagradas com o sangue menstrual foram substituídas por proibições, enclausuramento, restrições e conceitos perniciosos, causando assim nas mulheres perturbações psíquicas e disfunções fisiológicas. Perdendo a conexão com os ciclos da Lua, à medida em que o culto da Deusa foi proibido, a mulher começou a sofrer desiquilíbrios hormonais, dores, depressão e toda gama de sintomas conhecida como TPM. Enquanto suas ancestrais se recolhiam durante sua Lua em rendas ou cabanas para levantar “os véus entre os mundos” e trazer visões, orientações divinas ou comunicações dos espíritos familiares para a comunidade, as mulheres modernas devem enfrentar a jornada dupla ou tripla de trabalho, d​​isfarçando sua necessidade de recolhimento e ignorando sua vulnerabilidade física e emocional.

As meninas entram na puberdade – cada vez mais precocemente – sem ter o apoio da comunidade, nem a bênção de uma cerimônia e muitas vezes sem o apoio ou orientação de sua própria mãe.

No movimento atual de reavaliação do Sagrado Feminino, reconhece-se e honra-se o poder do sangue menstrual. Mais e mais mulheres estão RELEMBRANDO as práticas das suas ancestrais e restabelecendo seu vínculo com a Mãe Terra ao oferecer seu sangue menstrual. Oferecer o sangue à Terra desperta o sentimento de gratidão pela vida, a conexão com todas as suas manifestações e o respeito pela conservação de tudo o que é vivo. A mulher não mais se sente separada ou isolada da Natureza, ela interage com ela de uma maneira profunda e comovente, nutrindo o solo com seu sangue rico em hormônios e expressando assim sua GRATIDÃO pelo DOM DA VIDA.

Texto de Mirella Faur

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